Sem perceber, todos executamos essa coreografia silenciosa: precisamos estar próximos para alcançar objetivos comuns, mas essa mesma proximidade inevitavelmente gera conflitos, capazes de prejudicar a produtividade (KTStock/Getty Images)
Pesquisador, consultor e palestrante sobre a vida organizacional
Publicado em 1 de abril de 2025 às 08h01.
Você já ouviu falar do "dilema do porco-espinho"? Em um inverno rigoroso, dois porcos-espinhos percebem que precisam se aproximar para compartilhar calor e sobreviver. Mas, ao se aproximarem, os espinhos de um ferem o outro, obrigando-os a se afastarem novamente. Após várias tentativas, encontram finalmente uma distância ideal: perto o suficiente para trocar calor, mas longe o bastante para não se machucarem.
Essa delicada dança entre proximidade e distância, descrita pelo filósofo alemão Arthur Schopenhauer, ecoa diariamente nos corredores das empresas, nas reuniões presenciais e virtuais. Sem perceber, todos executamos essa coreografia silenciosa: precisamos estar próximos para alcançar objetivos comuns, mas essa mesma proximidade inevitavelmente gera conflitos, desgastes e divergências interpessoais capazes de prejudicar a produtividade.
É um dilema que líderes eficazes conhecem bem: seu papel não é eliminar completamente os conflitos, mas sim identificá-los e administrá-los para encontrar o ponto ótimo onde a tensão se transforma em inovação e resultados.
Imagine uma sala com pessoas diversas, cada uma com seus valores, histórias e visões de mundo. Todas precisam unir forças para alcançar metas comuns. Essa matemática humana não é simples — um mais um pode resultar tanto em conflitos paralisantes quanto em soluções brilhantes que nenhum indivíduo sozinho poderia conceber.
Essas tensões, chamadas por Robert Kegan e Lisa Lahey, da Universidade de Harvard, de "compromissos competitivos", são forças igualmente válidas, porém opostas, que coexistem nas organizações. Não se trata de escolher um lado ou outro, mas sim de encontrar formas produtivas de integrar ambos.
No cotidiano empresarial, essas tensões aparecem constantemente:
Esses dilemas não são apenas estratégicos, mas profundamente emocionais. Cada escolha carrega medos, esperanças, inseguranças e aspirações. Quando não compreendidas ou gerenciadas corretamente, essas tensões tornam-se fontes de ansiedade, conflitos interpessoais e fenômenos defensivos coletivos que prejudicam o funcionamento saudável das equipes.
Muitos líderes acreditam que evitar conflitos é um sinal de boa gestão. No entanto, silenciar temas críticos pode ser um dos maiores sabotadores do desempenho. Quando evitamos conversas difíceis, criamos "alianças inconscientes", pactos silenciosos que impedem a inovação e o crescimento.
Esses pactos podem assumir diversas formas, sendo a mais comum o "pacto silencioso de evitação", um acordo tácito no qual o grupo decide, sem perceber, evitar uma realidade organizacional dolorosa ou ameaçadora. No curto prazo, isso reduz a angústia imediata. A longo prazo, porém, gera paralisia organizacional e impede respostas estratégicas adequadas.
Um exemplo real ocorreu em uma grande indústria brasileira, que enfrentava uma crise de obsolescência tecnológica e declínio financeiro. Apesar dos sinais claros de crise iminente, executivos evitavam discutir o problema abertamente. O silêncio coletivo funcionava como um pacto inconsciente, distorcendo análises e supervalorizando pequenas boas notícias. Esse ciclo persistiu até a crise se tornar irreversível, exigindo uma ação abrupta e traumática.
Quando equipes e líderes têm coragem para trazer à tona esses paradoxos e conversas difíceis, os benefícios são imediatos e claros:
Na prática, como líderes podem aplicar esse conhecimento?
Além das boas práticas, convém também atenção especial para evitar erros comuns:
Esses erros, infelizmente, são comuns e destrutivos. Reconhecê-los é o primeiro passo para transformá-los em oportunidades de crescimento.
O dilema do porco-espinho nos lembra que proximidade gera conflitos inevitáveis, mas também nos traz uma poderosa lição: não precisamos eliminar as tensões para sermos produtivos. Pelo contrário, é justamente ao reconhecer e gerenciar esses paradoxos que líderes e equipes podem encontrar o equilíbrio ideal — nem tão próximos que se machuquem, nem tão distantes que percam o calor necessário à inovação, colaboração autêntica e crescimento sustentável.
A pergunta que fica é: você e sua organização estão preparados para abandonar o pensamento binário e abraçar uma nova forma de lidar com os paradoxos inevitáveis da vida corporativa?